Morte de agricultor em Santa Maria: vídeo mostra sequência de fatos desde chegada da polícia
09/07/2025
(Foto: Reprodução) Homem estaria cortando lenha em um galpão no interior da cidade quando houve a abordagem policial. Brigada Militar alega que homem estaria armado com machado e que "houve a necessidade do uso da arma de fogo para conter a ação e preservar a vida dos policiais". Imagens mostram sequência de acontecimentos na morte de agricultor no RS
Imagens de câmera de monitoramento da propriedade onde um agricultor foi morto a tiros em Santa Maria, na Região Metropolitana de Porto Alegre, mostra a sucessão de acontecimentos, desde a chegada da polícia na propriedade, até a remoção do corpo.
📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp
O caso aconteceu no dia 1º, no distrito de Palma. A vítima era Valdemar Both, 53 anos. A gravação foi entregue à Polícia Civil. A íntegra da gravação mostra os seguintes fatos.
A viatura chega na propriedade às 16h34
Os disparos ocorrem quase uma hora depois, às 17h24
Dezessete minutos depois, os policiais entram na viatura e tiram o veículo do local, retornando seis minutos mais tarde com outras duas pessoas
O SAMU chega às 18h58
A perícia no local inicia após às 19h
E às 21h o corpo é removido
Segundo a BM, Valdemar estaria com um machado e teria reagido a uma abordagem por suposto crime ambiental. De acordo com o delegado Adriano de Rossi, que investiga o caso, quando a Patrulha Militar chegou ao local, teria se deparado com o uso de motosserra e o corte de madeira. Por esse motivo, a equipe teria elaborado termos circunstanciados em relação ao homem.
"Na parte que já ia ter a assinatura, que é a parte final, a formalização do termo circunstanciado, ele teria pego o machado e avançado contra a guarnição", diz Rossi.
A BM instaurou um procedimento para apurar o caso e os dois policiais envolvidos na ocorrência foram afastados do trabalho nas ruas preventivamente. A Polícia Civil abriu inquérito e trata o caso como legítima defesa.
De acordo com o advogado da família, Both comprava eucalipto para fazer lenha e revender, o que é permitido, alega. Afirma também que equipamentos, como as motosserras, eram legalizadas.
"Os policiais fuzilaram o pai", diz filho
A mulher do agricultor de Valdemar chegou em casa horas depois do incidente.
Cléria Both, de 49 anos, trabalha como massoterapeuta e estava em outro bairro. No entanto, ao receber um áudio de uma amiga perguntando o que estava acontecendo, não entendeu e teria ido para casa:
"Quando cheguei [em casa], meu filho abriu a porta e disse: 'os policias fuzilaram o pai'. Estou até agora sem entender, estou sem chão", relata a mulher.
"Era uma pessoa extremamente boa. Ele ajudava todos aqui da comunidade", comenta a vizinha Cleusa Pereira.
Gabriel lembra da ação do pai em maio de 2024, quando o Rio Grande do Sul foi afetado pela pior catástrofe climática já registrada no estado:
"Sempre disposto a ajudar os outros. No período das enchentes, não mediu esforços", comenta o filho.
O agricultor Valdemar Both junto do filho e da esposa
Arquivo pessoal
Agricultor foi morto a tiros durante abordagem da BM em Santa Maria
Divulgação
A BM se manifestou em duas notas, na época do caso. Informa que estava em patrulhamento na área rural quando se deparou com um estabelecimento que processa e comercializa lenha.
"A equipe composta por dois policiais militares, ao chegar no local, manteve contato com o proprietário do empreendimento e ao longo da fiscalização, foi detectada uma serra circular e motosserras, bem como grande quantidade de madeira e lenha", aponta, em uma das notas.
A BM também alega que "uma guarnição do 2º Batalhão Ambiental da Brigada Militar foi surpreendida com golpes de machado pelo indivíduo suspeito da infração, ao não aceitar a ocorrência imposta”, e que "diante do risco iminente à integridade física da equipe, houve a necessidade do uso da arma de fogo para conter a ação e preservar a vida dos policiais militares" (leia, abaixo, a nota na íntegra).
O que diz a Brigada Militar
Primeira manifestação da BM
Durante o atendimento a uma ocorrência de crime ambiental, uma guarnição do 2º Batalhão Ambiental da Brigada Militar foi surpreendida com golpes de machado pelo indivíduo suspeito da infração, ao não aceitar a ocorrência imposta.
Diante do risco iminente à integridade física da equipe, houve a necessidade do uso da arma de fogo para conter a ação e preservar a vida dos policiais militares, o que infelizmente resultou no óbito do indivíduo.
Os devidos procedimentos foram instaurados para apuração dos fatos.
A Brigada Militar reafirma seu compromisso com a proteção da sociedade, o respeito aos direitos e garantias fundamentais e cumprimento da legislação vigente.
Segunda nota da BM
Em atenção a diversos questionamentos sobre a ocorrência de óbito decorrente de oposição a intervenção policial ocorrida no dia 01 de julho, o Comando Ambiental da Brigada Militar torna público, de forma preliminar, os seguintes esclarecimentos:
Na data dos fatos, uma equipe do 2º Batalhão Ambiental da Brigada Militar, com sede em Santa Maria, estava em patrulhamento na área rural do municipio quando se deparou com um estabelecimento que processa e comercializa produtos de origem florestal, notadamente lenha
A equipe composta por dois policiais militares, ao chegar no local, manteve contato com o proprietário do empreendimento e ao longo da fiscalização, foi detectada uma serra circular e motosserras, bem como grande quantidade de madeira e lenha.
Foi verificado que o mesmo não possuía a devida licença ambiental de operação. Licença essa que é obrigatória, segundo as normas ambientais. Também foi constatado que as motosserras não tinham a devida licença de porte e uso. Fatos estes que tipificam crimes ambientais previstos em lei.
O procedimento nestes casos é a lavratura de Termo Circunstanciado e a apreensão das motosserras até que os equipamentos possam ser regularizados.
A partir da informação de que o material seria aprendido, iniciaram-se hostilidades que infelizmente culminaram com o óbito do Sr que estava sendo fiscalizado.
Todas as circunstâncias e a dinâmica de como ocorreram os fatos serão apuradas no devido inquérito policial militar - IPM, que já foi instaurado.
O Comando Ambiental reforça seu compromisso com a verdade e transparência dos fatos, sendo necessário neste momento que se aguarde a conclusão da investigação em curso.
VÍDEOS: Tudo sobre o RS