Bolsonaro retira lesões na pele em procedimento médico; entenda diagnósticos, riscos e tratamentos
15/09/2025
(Foto: Reprodução) Jair Bolsonaro deixa hospital de Brasília após realizar procedimento para tratar lesão na pele
REUTERS/Adriano Machado
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deixou o hospital neste domingo (14) após passar por um procedimento para retirada de lesões na pele. Segundo boletim médico, foi realizada a exérese cirúrgica, termo usado para remoção de pintas ou lesões cutâneas.
Como Bolsonaro cumpre prisão domiciliar, a cirurgia precisou de autorização do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O pedido partiu da defesa, que apresentou relatório médico indicando a necessidade da retirada de lesões classificadas como CID-10 D22.5 (nevo melanocítico do tronco) e CID-10 D48.5 (neoplasia de comportamento incerto da pele).
O que são os diagnósticos citados
Segundo a dermatologista Paula Yume, o CID D22.5 se refere a pintas comuns, chamadas de nevos melanocíticos. Elas são formadas por melanócitos, células que produzem a melanina, pigmento que dá cor à pele. Essas pintas podem aparecer desde a infância ou ao longo da vida, influenciadas por fatores genéticos e pela exposição solar.
“Em geral, os nevos são benignos. Mas quando apresentam alterações de tamanho, cor, formato ou começam a sangrar, levantam suspeita de malignidade e precisam ser avaliados”, explica a médica.
Já o CID D48.5 corresponde a uma lesão de comportamento incerto. Nesse caso, não é possível definir apenas pela avaliação clínica se a pinta é benigna ou maligna. A conduta indicada é retirar toda a lesão e encaminhá-la para análise laboratorial.
Tipos de câncer de pele
A principal preocupação diante de uma pinta suspeita é que ela seja um melanoma, tipo mais agressivo de câncer de pele. Ele nasce da proliferação descontrolada dos melanócitos e pode surgir tanto de uma pinta já existente quanto de uma nova lesão.
A maior parte dos melanomas — entre 70% e 80% — surge de forma espontânea, sem relação com pintas pré-existentes.
Apesar de representar menos de 5% dos diagnósticos, o melanoma é responsável pela maioria das mortes por câncer de pele.
Os tipos mais comuns, no entanto, são os carcinomas:
Carcinoma basocelular: corresponde a cerca de 80% dos diagnósticos de câncer de pele; cresce lentamente e raramente causa metástase.
Carcinoma espinocelular: representa aproximadamente 20% dos casos; é mais agressivo que o basocelular e pode se espalhar para outros órgãos.
Existem ainda outros cânceres cutâneos mais raros, como linfomas e sarcomas.
Como começa a investigação
A suspeita pode surgir de duas formas: pela percepção do paciente — ao notar mudanças em uma pinta já existente ou o aparecimento de uma nova — ou durante um exame de rotina.
Para a avaliação inicial, o dermatologista utiliza um dermatoscópio, aparelho que funciona como uma lupa com iluminação especial, para analisar a distribuição de pigmentos e vasos sanguíneos da lesão.
Com base nessa avaliação, a pinta é classificada como de baixo, moderado ou alto risco. Lesões atípicas podem ser enquadradas no CID D48.5, enquanto aquelas altamente suspeitas para melanoma exigem remoção imediata.
Quando há suspeita relevante, a conduta é realizar uma biópsia excisional, procedimento em que a pinta é retirada por inteiro. O material segue para análise do patologista, que confirma se a lesão é benigna ou maligna.
Em algumas situações, quando a pinta é muito extensa ou está localizada em regiões delicadas, como o pé ou a orelha, pode ser feita uma biópsia incisional, em que apenas parte da lesão é removida para exame.
No laboratório, o patologista avalia a proliferação dos melanócitos e pode recorrer a técnicas complementares, como a imunohistoquímica, para definir o diagnóstico com precisão.
O que acontece depois da biópsia
Se a pinta for considerada benigna, o tratamento se encerra com a retirada. O paciente apenas retira os pontos e segue com acompanhamento dermatológico.
Já quando a lesão é confirmada como maligna, especialmente no caso do melanoma, o paciente pode precisar de uma nova cirurgia, chamada ampliação de margens. Nela, é retirada também a pele ao redor da cicatriz original para garantir que não restem células tumorais.
Em casos de maior profundidade ou risco, pode ser indicado o exame do linfonodo sentinela, em que o primeiro gânglio linfático da região é removido e analisado. Esse procedimento verifica se houve metástase, ajudando a definir a necessidade de tratamentos adicionais.
Em casos avançados, entram em cena tratamentos sistêmicos como imunoterapia (que estimula o sistema imunológico a atacar as células tumorais), terapia-alvo (voltada para mutações específicas, como BRAF e MEK) e, em alguns contextos, quimioterapia.
Nos últimos anos, medicamentos de imunoterapia e terapias-alvo têm ampliado as taxas de sobrevida de pacientes com melanoma metastático, que historicamente tinha prognóstico bastante desfavorável. O acompanhamento multidisciplinar é fundamental para definir a estratégia de cada caso.
Prevenção
A dermatologista reforça que o câncer de pele tem altas taxas de cura quando identificado precocemente. Como forma de prevenção, ela recomenda:
usar protetor solar diariamente;
evitar exposição direta ao sol entre 10h e 16h;
realizar consultas anuais com dermatologista;
procurar atendimento médico diante de qualquer alteração em pintas ou manchas já existentes.
Bolsonaro deixa hospital após fazer exames e retirar lesões de pele